e os seus efeitos terapêuticos, com destaque para a vertente musical
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Música y Alzheimer
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Bobby McFerrin’s “Don’t Worry, Be Happy”: A Neuropsychology Reading
sábado, 3 de setembro de 2011
Arte transformada em terapia
"Sabe o que é normal e anormal? Sabe onde está a fronteira entre os dois?". As questões são colocadas, ao JN, por João Silva, encenador do Grupo de Teatro Terapêutico do Júlio de Matos, logo à entrada da sala de ensaios, instalada no primeiro andar do pavilhão principal daquele hospital, na Avenida do Brasil, em Lisboa. Ali, encontram-se, três vezes por semana, cerca de 15 pacientes que, através da arte, mostram uma outra face do fantasma das doenças do foro psiquiátrico.
Cerca de 10 minutos depois, não é difícil perceber as várias psicoses ou fobias dos actores. Enquanto que uns interrompem frequentemente os colegas, outros refugiam-se num silêncio atroz, do qual teimam em sair.
"Sempre sonhei fazer teatro, porque sentia aquelas vozes na minha cabeça que me diziam que era este o meu caminho. Mas pensava que não tinha jeito", admite Miguel Carvalho, de 42 anos, um dos actores. Intimidado, nunca levanta os olhos do soalho de madeira. "Sabe o que disse a minha irmã quando me viu pela primeira vez a representar? Agarrou-se a mim a chorar. Foi bonito", lembra.
A maioria dos elementos entrou no grupo - criado em 1968 - aconselhada pelos médicos que a acompanha no Júlio de Matos. Há ainda os que, exteriores à instituição, souberam da existência daquele tipo de terapia complementar à medicação, mas à qual só acederam através de uma declaração do seu psicólogo.
Os encontros entre actores e encenador, mais do que de uma discussão de temas para as novas peças, convertem-se em tertúlias, onde o assunto principal da conversa é a doença que os une. Naquele grupo, onde a permanência dos pacientes é muito variável, a antiguidade é um posto. E António Santana é o elemento que há mais tempo encarna as personagens desenhadas por João Silva.
Em 1982, a representação surgiu como um corte radical com uma vida inteira de internamento no Júlio de Matos, que já foi considerado um dos maiores e melhores hospitais psiquiátricos em toda a Europa. "Estive 22 anos internado num pavilhão. Dependia de imensos medicamentos, babava-me e rastejava. A minha vida era miserável", conta António, o mais calmo dos actores.
Com chegada de mais um paciente à sala, o grupo alarga-se numa enorme roda, composta ainda por terapeutas da fala e psicólogos. A maior parte tem vergonha em admitir publicamente a doença. "Comigo não vai falar, está a perceber?", grita, para o JN, incessantemente, uma outra actriz. Acaba por se levantar e caminhar para um canto da sala. Dali fica a observar o restante grupo.
"Temos de ter sensatez ao lidar com estes actores. Poderemos levar um ano de ensaios. E há um relacionamento que é preciso ir cultivando", traduz João Silva.