Há um corpo literário em crescimento relativamente ao uso da musicoterapia como um tratamento efectivo com pessoas portadores de perturbações da comunicação.
A musicoterapia constitui uma forma “aceitável de expressão de estados interiores, necessidades e sentimentos” (Bruscia, 1998), proporcionando a pessoas com dificuldades na fala a oportunidade de explorar os seus sentimentos e de os exteriorizar sem ter de os verbalizar, isto é, substituindo a necessidade de palavras.
A sua aplicação reveste-se de importância precisamente em situações nas quais a linguagem verbal não se utiliza, isto é, quando não é compreendida, ou é inexistente. A organização do material sonoro correlaciona-se com o processo de combinar letras para formar uma palavra referente a um determinado conceito, uma vez que os sons e ritmos dos instrumentos funcionam como as palavras e frases de uma linguagem não-verbal, facultando um meio de expressão ao indivíduo com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA). A criação e organização de sons como ferramenta comunicativa implica, pois, a ordenação de partes que se integram para formar um todo significante.
Por outro lado, a música oferece um meio de comunicação mais facilmente compreendido e assimilado pelos indivíduos com PEA, comparativamente com outros meios mais tradicionais, como a fala, uma vez que oferece espaço, tempo e um meio de comunicação criativo e lúdico. Estudos relativos aos efeitos da música nas competências sociais em crianças com PEA, sugerem que a música lhes providencia o acesso a emoções e estados mentais que facultam a compreensão do outro.
Vários autores apontam as competências sociais adquiridas por indivíduos com PEA como indicadores da eficácia do processo em musicoterapia, nomeadamente a espontaneidade a nível expressivo, o desenvolvimento de capacidades comunicativas e surgimento de iniciativa em situações de interacção social.
A razão pela qual a Musicoterapia se revela eficaz no desenvolvimento de características comunicativas específicas (contacto ocular, atenção conjunta, turn-taking…) em crianças com PEA se relaciona com dois elementos que a caracterizam: as possibilidades de estabilidade (estrutura previsível) e flexibilidade (espontaneidade). A Musicoterapia é, pois, um meio ideal para a expressão destas crianças, que apresentam como característica dificuldades de aceitação e adaptação ao imprevisível na vida quotidiana, pelo facto de se basear em ambientes que a criança pode prever e controlar, verificando-se a concomitância de flexibilidade e criatividade num ambiente de trabalho estruturado.
O homem é uma criatura essencialmente comunicativa, sendo através da comunicação que a vida humana adquire significado. Sob este ponto de vista, e segundo alguns autores (Hamel, 2007; Aguiar & Nisenbaum, 1999; Lelis & Romera, 1997, entre outros) a musicoterapia deve, então, ser valorizada, considerando o contributo que esta pode dar ao indivíduo com distúrbios da comunicação e linguagem.
Faculta a transição do universo singular, privado, que caracteriza a PEA, para um universo pluridimensional, característico de um mundo social. Os recursos musicais, rítmicos e sonoros (sons definidos e indefinidos) vão de encontro à solução para o “isolamento social e (…) solidão em que o autista está aprisionado” (Aguiar & Ninsenbaum, 2000).
Bibliografia:
· Magee, W. L.; Brumfitt, S. M.; Freeman, M.; Davidson, J. W. (2006): The role of music therapy in an interdisciplinary approach to address functional communication in complex neuro-communication disorders: a case report. Disability and Rehabilitation, 28(19), 1221-1229
· Aguiar, R.; Ninsenbaum, E. (1999). Musicoterapia: superando fronteras. Rio de Janeiro: CC&P Editores
· Kim, J.; Wigram, T.; Gold, C. (2008): The effects of improvisational music therapy on joint attention behaviors in autistic children: a randomized controlled study. Journal of Autism and Development Disorders, vol. 38, 1758-1766
· Sousa, T. P. (2007). A musicoterapia como auxílio na comunicação de pessoas com deficiência mental. Goiânia: Escola de Música e Artes Cénicas da Universidade Federal de Goiás.
· Gomes, A. M.; Simões, A. (2007): A Música e a Criança com Distúrbios de Comunicação e Linguagem. Cadernos de Estudo. Porto: ESE de Paula Frassinetti. nº5, p.127-141
· Lelis, C.; Romera, M. L. (1997). Musicoterapia nas oficinas terapêuticas: trilhando e recriando horizontes. Revista Brasileira de Musicoterapia, nº3, p.41-49
· Hamel, N. (2007). Musicoterapia: a escuta terapêutica da linguagem musical. Revista Brasileira de Musicoterapia. Nº8, p.66-77
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