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e os seus efeitos terapêuticos, com destaque para a vertente musical

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Música electrónica: possibilidades terapêuticas

Há alguns anos Benenzon, inserido num grupo de sete médicos especializados em psiquiatria, realizaram uma experiência no laboratório de música electrónica do Instituto Di Tella, com o objectivo de investigar os efeitos biopsicológicos dos sons eletrónicos. Segue-se o levantamento de algumas considerações que o estudo em questão permitiu compreender.

A primeira parte da experiência consistiu na audição de sons electrónicos puros, como por exemplo, um som sinusoidal, bem como a audição de ruído branco, durante 60 minutos cada um. Estes eram transmitidos do laboratório até ao salão acústico onde se encontravam os médicos. No final dos 60 minutos cada um dos participantes registava num gravador as impressões e associações livres produzidas durante a audição do som.

As sessões experimentais realizam-se às 14 horas, e Benenzon relata que estas provocavam intensas sensações distintas, das quais era "muito difícil livrar-se durante o resto do dia".
Segundo os resultados obtidos, concluiu-se que o som contínuo traz a sensação de solidão, e inversamente, as pulsações estimulam a união e a sensação de pertença a um grupo. Algumas pulsações, sucedidas por silêncios prolongados, produziam inclusivamente o aparecimento do reflexo patelar.
O autor relata ainda que "com facilidade entrávamos em fenómenos de atemporalidade. Por exemplo, acreditando que se haviam passado 10 minutos, quando na realidade se haviam passado 25 ('O autismo, a família, a instituição e a musicoterapia', p.180)".

Por outro lado, na segunda parte da experiência, os participantes foram submetidos à audição de sons compostos, produzidos e manipulados por compositores e engenheiros técnicos de som. Nesta etapa foram registadas algumas sensações cuja percepção foi unânime entre os diferentes membros do grupo, quer de conotação positiva, como ânimo e diversão, quer de conotação negativa, como a de claustrofobia, pânico, perseguição, nojo e náuseas.


Numa visão geral, concluiu-se que alguns sons electrónicos produzem componentes exclusivamente somáticos, enquanto que outros envolvem um maior número de componentes psicológicos. O material sonoro mais organizado, com conteúdo fundamentalmente melódico ou musical, produziu tendencialmente fenómenos intelectuais, enquanto que o material constante, contínuo, do mesmo registo e/ou frequência reflectiu-se, predominantemente, sob a forma de sintomas físicos, em várias zonas somáticas. Entre estas, encontram-se a zona intestinal, a zona cardíaca e a zona cerebral, conforme o som fosse mais grave ou mais agudo, respectivamente.

Com base nos resultados deste estudo experimental e considerando as possibilidades terapêuticas da música electrónica, Benenzon colocou algumas questões no mínimo curiosas:
1) Utilização, em pacientes hipocondríacos, de sons produtores de sensações somáticas especificamente escolhidas
2) Utilização, em quadros de delírio, de sons que interceptam o pensamento
3) A substituição de certas drogas alucinogénicas por sons que provoquem estados regressivos e alucinatórios
4) A utilização de sons como técnica de aproximação e vínculo em crianças psicóticas

Os efeitos dos sons/música são uma área a ser explorada para conhecer mais aprofundadamente as reacções fisiológicas do organismo humano na perspectiva de as poder controlar e, quem sabe, curar muitos dos males que assolam a Humanidade...

Informação acedida em:
Benenzon, R. O. (1987). O autismo, a Família, a Instituição e a Musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivro
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