Um espaço para partilha de ideias relacionadas com as práticas artísticas
e os seus efeitos terapêuticos, com destaque para a vertente musical

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A música não é linguagem... mas é comunicação

A música não é uma linguagem…

Segundo o neurologista Borchgrevink (1991), a música pode ser definida como uma progressão sonora não-linguística organizada no tempo. O facto de ser não linguística justifica-se se for considerado que cada elemento sonoro carece da conexão simbólica específica com um conceito/significado/ideia que caracteriza uma linguagem. A linguagem verbal desenvolve-se, pois, por associação de conceitos e símbolos, enquanto que o desenvolvimento das construções musicais é submetido a uma lógica de associação ditada pelas nossas experiências: “são as experiências auditivas, não a música em si, que geram as verdades ficcionais” (Walton, 1997, cit in Correia, 2006, p.139). Ao contrário da linguagem verbal, a música não apresenta, portanto, uma organização interna que permita representar o mesmo significado proposicional ou a mesma realidade para todos.

… é comunicação


Inúmeros estudos foram e são feitos relativos às diversas maneiras como a espécie humana comunica. Muitos esforços foram feitos no sentido de clarificar a distinção entre comunicação verbal e comunicação artística. Pode entender-se comunicação como um processo interaccional através do qual são efectuadas trocas de mensagens, utilizando-se sistemas simbólicos de suporte para esse fim.
Os componentes envolvidos no processo de comunicação compreendem o emissor, o receptor, a mensagem, o canal de propagação, o meio de comunicação, a resposta (feedback) e o ambiente onde o processo comunicativo se realiza. A comunicação pode, então, ser vista como um veículo das manifestações observáveis de um indivíduo, em que toda a manifestação possui uma mensagem a ser levada. As palavras, a movimentação, a inactividade ou os silêncios, todos estes elementos comunicam.
Sendo o som um elemento desencadeador de representações simbólicas, pode-se considerar que a música corresponde e se insere na definição de comunicação supramencionada. Borchgrevink afirma, pois, que “a música (…) deve ser considerada um meio de comunicação, e, como na maioria das manifestações artísticas, as emoções, assim como os conceitos de carácter estético, ritualístico ou simbólico, podem ser expressados (…) de maneira mais directa do que através do código verbal, desde que os meios de expressão sejam percebidos e evoquem impressões (…) no ouvinte.” (cit in Hamel, 2006).
O fazer musical pode ser considerado como um meio de comunicação que facilita uma comunicação holística, envolvendo de forma integral e integrada o ser como um todo. Através da liberdade de criar, o ser humano ganha, entre outros benefícios, o prazer de produzir algo, de construir e de se comunicar através de uma linguagem com regras de construção mais livres do que a de linguagem falada.

“ (…) [A música é] actividade artística por excelência e possibilita ao compositor ou executante compartilhar suas emoções e sentimentos. Sob essa óptica, a música não pode ser um fenómeno natural, pois decorre de um desejo humano de modificar o mundo, de torná-lo diferente do estado natural. Em cada ponta dessa cadeia, há o homem. A música é sempre concebida e recebida por um ser humano. Neste caso, a definição da música, como em todas as artes, passa também pela definição de uma certa forma de comunicação entre os homens.”
(Pablo Etcheverria, 2007)

Bibliografia:
Hamel, N. (2006). Musicoterapia: a escuta terapêutica da linguagem musical. Revista Brasileira de Musicoterapia. Nº8, p.66-77
Correia, J. S. (2006). Como comunicamos musicalmente? Actas de La V Reunión de SACCoM (Sociedad Argentina para las Ciencias Cognitivas de la Musica) , pp. 135-145
Uricoechea, A. S. (1997). Construindo sons e suas ressonâncias. Revista Brasileira de Musicoterapia, nº3 , pp. 35-40
Braga, A. L. & Lang, N. (2006). Pesquisando a “inclusão” na cidade de Ribeirão Preto. Revista Brasileira de Musicoterapia, 8, pp.11-25

Nenhum comentário:

Postar um comentário